Quatro conferências
feitas pelo escritor argentino em Buenos Aires, sobre o tango, há mais de meio
século, e das quais se pensava não haver registo, apareceram numas cassetes. A
tradução portuguesa é agora publicada.
JOSÉ RIÇO DIREITINHO
Em 2012, o escritor basco Bernardo Atxaga publicou na
revista Erlea (editada pela Real Academia da Língua Basca) um artigo sobre a
história das gravações de umas conversas públicas, acerca do tango e das suas
origens, tidas pelo argentino Jorge Luis Borges, em 1965, num apartamento em
Buenos Aires. As cassetes estavam na posse de Atxaga havia dez anos, mas muito
poucos sabiam da sua existência. Tinham-lhe sido dadas, num embrulho, por um
outro basco, Manuel Goikoetxea, que havia algum tempo as recebera, trazidas de
Buenos Aires e em agradecimento pela amizade, de um galego que emigrara para a
Argentina em criança e que se tornara produtor musical, Manuel Román Rivas.
Bernardo Atxaga digitalizou o material e guardou-o. Anos
mais tarde, confirmou a autenticidade dessas conversas quando o biógrafo Edwin
Williamson, autor de Borges: Una vida (2007), escreveu sobre elas depois de ter
encontrado no jornal argentino La Nación – na página 6 da edição de 30 de
Setembro de 1965 – uma notícia com o título Sobre temas do tango falará Jorge
Luis Borges, e em que nela se anuncia “um ciclo de conferências que será
apresentado todas as segundas-feiras de Outubro, às 19, no primeiro andar,
apartamento 1, da rua General Hornos, 82”, e nas quais falará sobre as “Origens
e as vicissitudes do tango”, “O Río de la Plata nos princípios do século”,
entre outros temas relacionados.
Dois anos depois de ter publicado o artigo na revista basca,
Atxaga enviou as cassetes ao seu amigo e escritor galego César Antonio Molina,
na altura director da Casa del Lector, em Madrid, dizendo-lhe que lhes desse a
publicidade que entendesse. Molina, amigo de longa data de María Kodama (viúva
de Borges), ligou-lhe de imediato e contou-lhe do ‘achado’, ao que ela
respondeu que desconhecia as gravações e as conferências; o escritor galego
enviou para Buenos Aires uma cópia, e semanas depois a viúva de Jorge Luis
Borges confirmou que o material gravado era autêntico. Foi em Novembro de 2013
que os três (Molina, Kodama e Atxaga) reuniram a imprensa para falarem sobre o
assunto. Acerca do trajecto feito pelas gravações durante quase meio século,
disse César Antonio Molina: “todo este périplo representa simbolicamente o que
é a nossa comunidade ibero-americana: um galego grava um argentino; o galego
entrega a gravação a um basco e o basco volta a entregá-la a outro galego para
que, por fim, o documento de um argentino, um dos grandes mestres da literatura
de todos os séculos, veja a luz.”
Fuente: Ípsilon
No hay comentarios:
Publicar un comentario