miércoles, 21 de noviembre de 2018

En San Pablo: "El Inmortal", Gisele Fróes visita la eternidad de Jorge Luis Borges


Inspirado en el cuento de Borges, persigue el sueño de dejar como herencia gestos y palabras

Em 'Imortal', Gisele Fróes visita a eternidade de Jorge Luis Borges

 Em 'Imortal', Gisele Fróes visita a eternidade de Jorge Luis Borges Foto: ISMAEL MONTICELLI


Inspirado no conto do argentino, persegue o sonho de deixar como herança gestos e palavras

Leandro Nunes, O Estado de S.Paulo

Para Gisele Fróes, Jorge Luis Borges é como água fresca no meio do deserto. Essa foi a sensação que ela teve ao ler O Imortal, conto que abre O Aleph, do escritor argentino. O texto ganhou versão para os palcos, já passou por Brasília e Rio, e chega a São Paulo nesta sexta, 26, no Sesc Avenida Paulista.

Na época em que leu o conto, Gisele conta que estava afetada pela personagem que interpretava na montagem carioca de Você Precisa Saber de Mim (2011), dirigida por Jefferson Miranda. “Era uma mulher com dificuldades de se expressar por palavras.” A escassez verbal que abundava a vida da personagem conduziu a atriz ao oásis literário de Borges. “As palavras do conto provocaram minhas emoções e eu precisava estar perto delas. O jeito era transportar a história para o palco”, explica a atriz sobre o monólogo.


Mesmo assim, a trilha que levou Gisele ao texto não garantia destino certo. Os labirintos de palavras criados por Borges também estão presentes em O Imortal, conta o diretor Adriano Guimarães, ao lado do irmão Fernando. “É difícil enquadrar o texto em um gênero”, diz. “Há uma espécie de jornada do herói em busca de algo. No meio existe um tratado de filosofia e até um momento de crítica literária.”

De fato. No texto, uma mulher recebe seis exemplares da tradução inglesa de Ilíada e enquanto folheia os volumes daquele antigo poema épico de Homero, descobre um manuscrito escondido. Nele, revela-se o relato autobiográfico de um tribuno militar, um oficial do Império Romano chamado Marco Flamínio Rufo. Na história, ele conta para a leitora, e agora para a plateia, o seu percurso em busca da Cidade dos Imortais, local que abriga um rio capaz de purificar da morte qualquer um que beba de suas águas. “É uma narrativa fluida”, aponta Adriano. “O que permite encarar diversos caminhos, desde a vida da mulher, desse herói e do autor.”

Além do texto, a dramaturgia de Adriano e Patrick Pessoa se apoiou em uma palestra de Borges sobre o tema da imortalidade e eternidade, muitos anos após a escritura de O Imortal. “Lá ele acaba por iluminar o sentido desta perseguição à imortalidade, que nesse caso, não segue a ideia obsessiva da manutenção do corpo físico através do tempo, mas da eternidade que pode haver nas palavras e no gestos”, conta Adriano.

No palco, uma profusão de caixas de papelão e livros ao redor de Gisele. A estreia da peça em uma galeria de Brasília deu tom de instalação ao espetáculo, conta o diretor. “É um gatilho para a imaginação, criando um local em comum em contato com os outros elementos, como o texto e a atriz.”

Para Gisele, o cenário “a transporta para o infinito”, diz. “Em certo momento, o autor coloca em dúvida o que o guerreiro está nos contando. É um texto cheio de labirintos e me permito percorrer esse questionamento ao lado da plateia. E para se justificar, Borges recorre ao autor de Ilíada: são as mentiras que os poetas contam.”

Fuente: O Estado de S.Paulo

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