Inspirado en el
cuento de Borges, persigue el sueño de dejar como herencia gestos y palabras
Em
'Imortal', Gisele Fróes visita a eternidade de Jorge Luis Borges
Em 'Imortal', Gisele Fróes visita a eternidade de Jorge Luis
Borges Foto: ISMAEL MONTICELLI
Inspirado no conto do
argentino, persegue o sonho de deixar como herança gestos e palavras
Leandro Nunes, O
Estado de S.Paulo
Para Gisele Fróes, Jorge Luis Borges é como água fresca no
meio do deserto. Essa foi a sensação que ela teve ao ler O Imortal, conto que
abre O Aleph, do escritor argentino. O texto ganhou versão para os palcos, já
passou por Brasília e Rio, e chega a São Paulo nesta sexta, 26, no Sesc Avenida
Paulista.
Na época em que leu o conto, Gisele conta que estava afetada
pela personagem que interpretava na montagem carioca de Você Precisa Saber de
Mim (2011), dirigida por Jefferson Miranda. “Era uma mulher com dificuldades de
se expressar por palavras.” A escassez verbal que abundava a vida da personagem
conduziu a atriz ao oásis literário de Borges. “As palavras do conto provocaram
minhas emoções e eu precisava estar perto delas. O jeito era transportar a
história para o palco”, explica a atriz sobre o monólogo.
Mesmo assim, a trilha que levou Gisele ao texto não garantia
destino certo. Os labirintos de palavras criados por Borges também estão
presentes em O Imortal, conta o diretor Adriano Guimarães, ao lado do irmão
Fernando. “É difícil enquadrar o texto em um gênero”, diz. “Há uma espécie de
jornada do herói em busca de algo. No meio existe um tratado de filosofia e até
um momento de crítica literária.”
De fato. No texto, uma mulher recebe seis exemplares da
tradução inglesa de Ilíada e enquanto folheia os volumes daquele antigo poema épico
de Homero, descobre um manuscrito escondido. Nele, revela-se o relato
autobiográfico de um tribuno militar, um oficial do Império Romano chamado
Marco Flamínio Rufo. Na história, ele conta para a leitora, e agora para a
plateia, o seu percurso em busca da Cidade dos Imortais, local que abriga um
rio capaz de purificar da morte qualquer um que beba de suas águas. “É uma
narrativa fluida”, aponta Adriano. “O que permite encarar diversos caminhos,
desde a vida da mulher, desse herói e do autor.”
Além do texto, a dramaturgia de Adriano e Patrick Pessoa se
apoiou em uma palestra de Borges sobre o tema da imortalidade e eternidade,
muitos anos após a escritura de O Imortal. “Lá ele acaba por iluminar o sentido
desta perseguição à imortalidade, que nesse caso, não segue a ideia obsessiva
da manutenção do corpo físico através do tempo, mas da eternidade que pode
haver nas palavras e no gestos”, conta Adriano.
No palco, uma profusão de caixas de papelão e livros ao
redor de Gisele. A estreia da peça em uma galeria de Brasília deu tom de
instalação ao espetáculo, conta o diretor. “É um gatilho para a imaginação,
criando um local em comum em contato com os outros elementos, como o texto e a
atriz.”
Para Gisele, o cenário “a transporta para o infinito”, diz.
“Em certo momento, o autor coloca em dúvida o que o guerreiro está nos
contando. É um texto cheio de labirintos e me permito percorrer esse
questionamento ao lado da plateia. E para se justificar, Borges recorre ao
autor de Ilíada: são as mentiras que os poetas contam.”
Fuente: O Estado de S.Paulo
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