Aos 15 anos, li pela primeira vez um conto de Jorge Luis
Borges:
As Ruínas Circulares. Foi a primeira vez que senti o impacto
de uma
obra de arte. Até então, nenhuma música, nenhuma pintura,
nenhum filme,
nenhum verso, tinha
me comovido daquela maneira. Quando terminei de ler o conto de 8 páginas, os
meus limites de sonho e realidade tinham se confundido. Minhas crenças de que a vida é cheia de sonhos e
os sonhos são bem verdadeiros se confirmavam. Eu havia encontrado alguém com quem conversar.
Na última página do conto, logo em baixo do último ponto
final, minha avó que já não era mais viva, mas que sempre foi muito viva em
mim, havia escrito em caneta azul: “Lindíssimo!”
Essa palavra fortalecia meu impacto com a arte daquele
escritor e fortalecia minha admiração por minha avó.
Com os anos fui lendo a obra de Borges, lendo e me
transformando, lendo e me decifrando, lendo e me desconhecendo.
Chegou um momento em que eu mesmo precisei passear em seus
universos.
Mundos habitados por tigres, espelhos, ampulhetas, escadas
inversas, sonhos e memórias. Memórias.
Mémoria do Mundo começou como uma seleção dos meus trechos
favoritos de Borges, passou por muitos
olhos, olhos que não me canso de agradecer, até se transformar em um texto que
tenta, timidamente, explorar as atmosferas do escritor, tocar em algumas de
suas questões, mas é, no fundo, um elogio à memória.
Foi então que encontrei Élcio Nogueira, diretor da peça,
como companheiro incansável, lúcido e delirante e partimos atravessando os desertos e os labirintos.
Obrigado Élcio, pela parceria e por nunca cortar a corda.
Sobre Borges, recordo as palavras de um outro poeta: o teu
dever é não se deixar levar pelo sacrifício. O teu dever real é salvar o teu
sonho.
Fuente : João Paulo Lorenzon
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