sábado, 21 de abril de 2018

As conversas perdidas de Jorge Luis Borges





 Quatro conferências feitas pelo escritor argentino em Buenos Aires, sobre o tango, há mais de meio século, e das quais se pensava não haver registo, apareceram numas cassetes. A tradução portuguesa é agora publicada.

JOSÉ RIÇO DIREITINHO

Em 2012, o escritor basco Bernardo Atxaga publicou na revista Erlea (editada pela Real Academia da Língua Basca) um artigo sobre a história das gravações de umas conversas públicas, acerca do tango e das suas origens, tidas pelo argentino Jorge Luis Borges, em 1965, num apartamento em Buenos Aires. As cassetes estavam na posse de Atxaga havia dez anos, mas muito poucos sabiam da sua existência. Tinham-lhe sido dadas, num embrulho, por um outro basco, Manuel Goikoetxea, que havia algum tempo as recebera, trazidas de Buenos Aires e em agradecimento pela amizade, de um galego que emigrara para a Argentina em criança e que se tornara produtor musical, Manuel Román Rivas.

Bernardo Atxaga digitalizou o material e guardou-o. Anos mais tarde, confirmou a autenticidade dessas conversas quando o biógrafo Edwin Williamson, autor de Borges: Una vida (2007), escreveu sobre elas depois de ter encontrado no jornal argentino La Nación – na página 6 da edição de 30 de Setembro de 1965 – uma notícia com o título Sobre temas do tango falará Jorge Luis Borges, e em que nela se anuncia “um ciclo de conferências que será apresentado todas as segundas-feiras de Outubro, às 19, no primeiro andar, apartamento 1, da rua General Hornos, 82”, e nas quais falará sobre as “Origens e as vicissitudes do tango”, “O Río de la Plata nos princípios do século”, entre outros temas relacionados.


Dois anos depois de ter publicado o artigo na revista basca, Atxaga enviou as cassetes ao seu amigo e escritor galego César Antonio Molina, na altura director da Casa del Lector, em Madrid, dizendo-lhe que lhes desse a publicidade que entendesse. Molina, amigo de longa data de María Kodama (viúva de Borges), ligou-lhe de imediato e contou-lhe do ‘achado’, ao que ela respondeu que desconhecia as gravações e as conferências; o escritor galego enviou para Buenos Aires uma cópia, e semanas depois a viúva de Jorge Luis Borges confirmou que o material gravado era autêntico. Foi em Novembro de 2013 que os três (Molina, Kodama e Atxaga) reuniram a imprensa para falarem sobre o assunto. Acerca do trajecto feito pelas gravações durante quase meio século, disse César Antonio Molina: “todo este périplo representa simbolicamente o que é a nossa comunidade ibero-americana: um galego grava um argentino; o galego entrega a gravação a um basco e o basco volta a entregá-la a outro galego para que, por fim, o documento de um argentino, um dos grandes mestres da literatura de todos os séculos, veja a luz.”

Fuente: Ípsilon

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